Descrição

Histórias de viagens ilustradas com fotografias

terça-feira, 29 de junho de 2010

A que velocidade anda um rolo fotográfico?

Não ligo muito (ou quase nada) aos santos populares, por isso não vou sair na noite de S. João.
Sair no sentido de comer sardinhas e andar às marteladas às cabeças alheias.
Mas de facto saí, depois de jantar fui ao centro comercial tomar café, aproveitando o facto de ter um rolo fotográfico para revelar.
É que se não fosse assim não conseguiria tomar café, os estabelecimentos à minha volta fecharam todos cedo hoje.

Mal saí a porta do prédio notei algo diferente, a ausência de ruído. A diferença foi mais notória porque tinha acabado de desligar a televisão onde tinha estado a ver futebol e a ouvir vuvuzelas. Não era silêncio, era como se fossem 7h da manhã de um domingo e ainda estivessem todos a dormir. O que é estranho, porque eram oito e meia da noite. Apesar disso, e ao contrário do que é habitual a rua estava quase deserta. De pessoas, porque de fumo e cheiro a sardinhas não.

Muitos quilos (ou toneladas) de CO2 vão ser libertados esta noite para a atmosfera. E no fundo para quê? Para incinerar uns pobres animais já mortos à sede por falta de água. E nem sequer em homenagem lhes lançam as cinzas à água. Quer dizer, não percebo nada de sardinhas, mas acho que se lhes falta a água, morrem à sede. A mim era o que me aconteceria se me faltasse a água.

Bom, mas voltemos ao rolo fotográfico. Dirigi-me de carro ao Parque Nascente por ruas quase desertas, estacionei no parque quase deserto, e tomei café na área de alimentação onde as mesas estavam quase todas desertas. Por momentos cheguei a pensar que estaria no deserto da margem sul do Tejo e ainda olhei à minha volta para ver se avistava o camelo do ministro.

Não interpretem mal as minhas palavras, porque eu não estou a insultar sua excelência o senhor ministro Mário Lino. O que eu disse foi, o camelo virgula meio de transporte no deserto virgula do ministro.

O que de facto me trouxe aqui hoje foi o rolo fotográfico, por isso continuemos com a história. Depois do café, desci as escadas rolantes, entreguei o rolo no balcão do Jumbo e diz-me a simpática menina que me atendeu que estaria pronto dentro de sete dias. Às vezes não ouço bem, por isso tive que lhe pedir para repetir.

Não tenho palavras para descrever a surpresa que tive ao constatar a velocidade a que se move um rolo fotográfico em pleno século XXI.

O meu único pensamento foi para uma reconstituição histórica.

O rolo é cuidadosamente guardado dentro de uma caixa de madeira com o interior forrado a tecido e com os cantos em latão já oxidado pelo uso. Um empregado, com bigode aparado e patilhas compridas a sairem por baixo do chapéu largo pega na caixa, coloca-a debaixo do braço e sai em direcção ao coche parado em frente da loja.
Entra e faz um sinal ao cocheiro. Este, sacode as rédeas com energia, grita duas ou três palavras e os dois cavalos erguem as cabeças, agitam as crinas e saem a trote pela rua enlameada.
Vão em direcção a um reino bué bué de longe onde fica um laboratório fotográfico. Chegando lá, o rolo é revelado, o que normalmente demora várias luas. Depois disso o rolo retorna, seguindo o caminho inverso.

Espero que chegue ainda dentro do prazo de validade.

(Este texto foi publicado originalmente no Facebook em 23/06/2010)

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