Não ligo muito (ou quase nada) aos santos populares, por isso não vou sair na noite de S. João.
Sair no sentido de comer sardinhas e andar às marteladas às cabeças alheias.
Mas de facto saí, depois de jantar fui ao centro comercial tomar café, aproveitando o facto de ter um rolo fotográfico para revelar.
É que se não fosse assim não conseguiria tomar café, os estabelecimentos à minha volta fecharam todos cedo hoje.
Mal saí a porta do prédio notei algo diferente, a ausência de ruído. A diferença foi mais notória porque tinha acabado de desligar a televisão onde tinha estado a ver futebol e a ouvir vuvuzelas. Não era silêncio, era como se fossem 7h da manhã de um domingo e ainda estivessem todos a dormir. O que é estranho, porque eram oito e meia da noite. Apesar disso, e ao contrário do que é habitual a rua estava quase deserta. De pessoas, porque de fumo e cheiro a sardinhas não.
Muitos quilos (ou toneladas) de CO2 vão ser libertados esta noite para a atmosfera. E no fundo para quê? Para incinerar uns pobres animais já mortos à sede por falta de água. E nem sequer em homenagem lhes lançam as cinzas à água. Quer dizer, não percebo nada de sardinhas, mas acho que se lhes falta a água, morrem à sede. A mim era o que me aconteceria se me faltasse a água.
Bom, mas voltemos ao rolo fotográfico. Dirigi-me de carro ao Parque Nascente por ruas quase desertas, estacionei no parque quase deserto, e tomei café na área de alimentação onde as mesas estavam quase todas desertas. Por momentos cheguei a pensar que estaria no deserto da margem sul do Tejo e ainda olhei à minha volta para ver se avistava o camelo do ministro.
Não interpretem mal as minhas palavras, porque eu não estou a insultar sua excelência o senhor ministro Mário Lino. O que eu disse foi, o camelo virgula meio de transporte no deserto virgula do ministro.
O que de facto me trouxe aqui hoje foi o rolo fotográfico, por isso continuemos com a história. Depois do café, desci as escadas rolantes, entreguei o rolo no balcão do Jumbo e diz-me a simpática menina que me atendeu que estaria pronto dentro de sete dias. Às vezes não ouço bem, por isso tive que lhe pedir para repetir.
Não tenho palavras para descrever a surpresa que tive ao constatar a velocidade a que se move um rolo fotográfico em pleno século XXI.
O meu único pensamento foi para uma reconstituição histórica.
O rolo é cuidadosamente guardado dentro de uma caixa de madeira com o interior forrado a tecido e com os cantos em latão já oxidado pelo uso. Um empregado, com bigode aparado e patilhas compridas a sairem por baixo do chapéu largo pega na caixa, coloca-a debaixo do braço e sai em direcção ao coche parado em frente da loja.
Entra e faz um sinal ao cocheiro. Este, sacode as rédeas com energia, grita duas ou três palavras e os dois cavalos erguem as cabeças, agitam as crinas e saem a trote pela rua enlameada.
Vão em direcção a um reino bué bué de longe onde fica um laboratório fotográfico. Chegando lá, o rolo é revelado, o que normalmente demora várias luas. Depois disso o rolo retorna, seguindo o caminho inverso.
Espero que chegue ainda dentro do prazo de validade.
(Este texto foi publicado originalmente no Facebook em 23/06/2010)
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