Acabadas as alarvidades, vamos falar de coisas sérias, sobre os diversos locais por onde passámos.
Comecemos pelo centro da acção, o rio...
Rio Guadiana
Dizem que havia um pastor
antre Tejo e Odiana,
que era perdido de amor
per ua moça Joana.
(Bernardim Ribeiro,
Écloga de Jano e Franco)
O Rio Guadiana visto do Pomarão
O Guadiana é um rio internacional, o quarto maior da Península Ibérica.
Com quase todos os rios há divergências quando à localização exacta das suas nascentes e o Guadiana não foge à regra. Há quem diga que nasce nas lagoas de Ruidera, na província espanhola de Ciudad Real, depois infiltra-se num curso subterrâneo e volta a reaparecer nos Ojos del Guadiana, no município de Villarrubia de los Ojos. Certo é que tem um comprimento que ronda os 820/830 km.
Serve de fronteira entre Portugal e Espanha por duas vezes, primeiro entre Caia e Monsaraz e depois entre Pomarão e a foz que se situa entre Vila Real de Santo António e Ayamonte.
No tempo dos romanos tinha o nome de Anas (que significa “dos patos”). Os árabes juntaram-lhe a palavra uadi (rio em árabe) passando a ser conhecido por Uadi Ana, ou rio dos patos. Durante alguns séculos o nome português era Uadiana, que depois derivou para Odiana.
O nome actual surge a partir do séc. XVI por influência espanhola. Os espanhóis transformaram a raiz árabe uadi em guadi, prefixo que têm outros rios espanhóis, como Guadalajara, Guadalquivir, etc.
Dois dos muitos patos avistados no rio
durante a descida
É um rio navegável até cerca de 80 km da foz. É um rio de contrastes, que alterna períodos de grande estiagem com cheias desastrosas. A mais famosa de todas ocorreu em 1876, em que o rio subiu em Mértola, 28m acima do nível da preiamar.
Mértola
A vila de Mértola, é a sede do município com o mesmo nome, um dos maiores do país, com 1.279,40 km2. Pertence ao distrito de Beja e é limitado a norte pelos municípios de Beja e Serpa, a leste por Espanha, a oeste por Almodôvar e Castro Verde e a sul por Alcoutim.
O castelo de Mértola
A vila fica situada na margem direita do rio Guadiana, imediatamente a montante da foz da ribeira de Oeiras.
Segundo o censo de 2001 a vila tinha 3.100 habitantes e o concelho 8.712.
No tempo dos romanos tinha o nome de Myrtilis Iulia, foi depois ocupada pelos visigodos e pelos muçulmanos, tendo nesta altura o nome de Mārtulah. Era um importante porto de rio, que dominava o Guadiana do alto do seu castelo; só seria conquistada aos Mouros no tempo do rei D. Sancho II, pelo comendador da Ordem de Santiago, Paio Peres Correia, em 1238.
Pomarão
Pomaráo é uma aldeia do concelho de Mértola, que segundo o censo de 2001 tinha 863 habitantes.
Fica situado na margem esquerda do Guadiana, na confluência com rio Chança, que faz fronteira com Espanha.
Restos do cais mineiro em Pomarão
A aldeia teve origem nos anos de 1859 e 60 depois de os proprietários das minas de S. Domingos terem decidido construir uma linha de caminho de ferro que ligava a mina ao Guadiana, para embarque do minério.
Foi uma das primeiras linha de caminho de ferro portuguesas, construída em 1858, apenas dois anos depois do troço Lisboa – Carregado, e esteve em funcionamento até à década de 1970.
Ainda são visíveis hoje em dia restos do antigo cais mineiro.
Em Fevereiro de 2009 foi inaugurada a Ponte Internacional do Baixo Guadiana, sobre o rio Chança. Para se chegar à povoação espanhola mais próxima, El Granado, era preciso percorrer 140km, com esta nova ponte a distância passou a ser de apenas 12km...
Alcoutim
Alcoutim é uma vila sede do município com o mesmo nome, com 576,57 km2, pertencente ao distrito de Faro. Segundo dados de 2006 a vila tem cerca de 1100 habitantes e o concelho 3272.
É limitado a norte pelo município de Mértola, a leste por Espanha (rio Guadiana), a sueste por Castro Marim, a sudoeste por Tavira e a oeste por Loulé e Almodôvar.
A vila de Alcoutim
A origem da povoação remonta ao Calcolítico, com a fixação de uma tribo celtibérica. No início do séc. II A.C. Foi ocupada pelos romanos que lhe deram o nome de Alcoutinium, de onde provém o nome actual. Foi posteriormente conquistada pelos Álanos e pelos Visigodos. Foi fortificada no início do séc. VIII quando passou para o domínio dos mouros.
Foi conquistada em 1240, no reinado de D. Sancho II e em 1304 D. Dinis deu-lhe um foral e mandou reeditar as muralhas e o castelo.
Sanlúcar de Guadiana
Em frente a Alcoutim fica a povoação espanhola de Sanlúcar de Guadiana. Existem uns pequenos barcos que fazem a travessia de pessoas entre as duas povoações.
Sanlúcar é um município pertencente à província de Huelva, com 96,5 km2 de área, e que segundo dados de 2007 teria 378 habitantes.
Sanlúcar de Guadiana e o seu castelo
A sua origem remonta à ocupação árabe, em que alguns grupos muçulmanos ocuparam estas terras sob protecção do reino taifa de Niebla.
O núcleo actual da povoação teve origem na conquista destas terras aos árabes pelo rei português D. Sancho II. Com o tratado de Badajoz em 1267 fixaram-se provisoriamente os limites dos reinos de Portugal e Castela e o rio Guadiana foi escolhido como elemento físico significativo para estabelecer essa fronteira.
O castelo de San Marcos sobranceiro à vila foi co
nstruído em 1642 devido à guerra da independência portuguesa, para defesa da vila, que não obstante foi ocupada militarmente por Portugal algumas vezes.
Puerto de La Laja
Durante o segundo dia da descida em canoa parámos a meio do percurso perto desta povoação espanhola.
Puerto de La Laja e o que resta dos silos de mineral
Puerto de La Laja é um antigo porto mineiro, semelhante a Pomarão e seu contemporâneo.
Situa-se na margem esquerda do Guadiana poucos quilómetros a jusante de Pomarão e pertence ao município de El Granado, província de Huelva.
Servia de porto para o escoamento do minério das minas de Cabeza del Pasto e posteriormente de Las Herrerias, o qual chegava até aqui através de uma linha de caminho de ferro de 32 km de extensão concluída em 1888, e que se manteve em actividade até 1965.
Saramugo
Para terminar temos o saramugo. Na segunda noite, em Pomarão, eu e o Carlos fomos dormir para um barco ancorado no cais e que tinha esse nome. Por curiosidade, quando regressei resolvi procurar o que seria um saramugo, e descobri que é um... Anaecypris hispanica.
Um saramugo
Pois é, o saramugo é um peixe. Uma espécie endémica da bacia do Guadiana, o que significa que não existe em mais parte nenhuma do mundo.
É um peixe que está em perigo de extinção, e por isso referido nos Livros vermelhos de vertebrados de Portugal e Espanha.
É o peixe mais pequeno da bacia do Guadiana, raramente ultrapassa os 7 cm de comprimentos, e vive cerca de 2 anos. O corpo é estreito e achatado lateralmente, com a cabeça pequena e olhos relativamente grandes. Tem uma cor prateada no ventre, castanho claro na zona dorsal e quase amarelo nas partes laterais. Alimenta-se de invertebrados minúsculos, algas e diversos detritos.
Curiosamente nunca foi detectado no troço principal da bacia hidrográfica, ou seja no rio Guadiana propriamente dito.
Em Portugal foi encontrado nas seguintes ribeiras, todas elas afluentes do Guadiana: Xévora, Caia (a montante da albufeira), Álamo, Degebe, Ardila, Chança (a montante da albufeira), Carreiras, Vascão, Foupana e Odeleite (a montante da albufeira).
Estão em curso acções conjuntas de Portugal e Espanha para evitar o sério risco de extinção que corre.
Quanto ao barco que nos serviu de quarto de hotel, e cujo nome despertou a curiosidade para esta pesquisa, trata-se de uma embarcação transformada para passeios fluviais pertença da Associação de Defesa do Património de Mértola.
Tem a designação de Ecoteca fluvial. Para quem não sabe, uma Ecoteca é um espaço didáctico e pedagógico, aberto a todos os cidadãos, onde é privilegiada a informação, a sensibilização e a formação sobre o ambiente.
A informação constante desta nota foi recolhida junto das seguintes fontes:
http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_principal
http://www.adpm.pt/
http://www.iambiente.pt/rea99/docs/31instefs.pdf
http://gomestorres.blogspot.com/2007/10/o-que-um-saramugo.html
http://www.triplov.com/galopim/guadiana/pages/aaa.htm
Boa noite, Paulo!
ResponderEliminarCom que então não sabias o que é um Saramugo!
Imperdoável, meu caro Emanuel! Ou a escrita te anda a desviar os olhos dos nossos queridos pacotes de açúcar!
É que o Saramugo é um dos peixinhos retratados na bela série do Fluviário de Mora, dos Cafés Delta, que de certeza tens na tua colecção!
Ou vai lá ver o bichito!
Um grande abraço,
Rui