Descrição

Histórias de viagens ilustradas com fotografias

domingo, 8 de agosto de 2010

Guadiana 2010 – descida em canoa – parte 2

Sábado – de Mértola a Pomarão

O sábado começou bem cedo, por volta das 6h30. A claridade do dia, aliada à dureza do chão e ao som da motoserra, que a esta hora ainda funcionava em pleno, fizeram as vezes de despertador. Levantei-me e tirei algumas fotos para registar o momento.

O início do dia

A pouco e pouco o resto do pessoal foi acordando também. Depois das lavagens possíveis neste hotel de 1000 estrelas, veio a hora do pequeno almoço. Seguiu-se a arrumação das mochilas para serem transportadas na camioneta. Quem quis ainda teve tempo para uma subida à vila para tomar café e ir à casa de banho.

O pequeno almoço

Quando descemos já havia pessoal a começar a colocar as canoas no rio. Estava prestes a começar a aventura da descida. O nosso horário regia-se pelas marés, e quanto a isso já estávamos um bocado atrasados. Devíamos ter partido por volta das 9h e já eram quase 10h.
Não tinha essa noção mas aprendi por experiência própria que apesar de estarmos a cerca de 70km da foz do rio o efeito das marés faz-se sentir com intensidade.

O início da descida

Nesta altura eu ainda não sabia que as fotos seguintes iriam ficar uma porcaria. Comprei um saco impermeável para poder transportar a máquina em segurança, mas ou porque eu sou um autêntico nabo ou porque o saco é apenas para transporte e não para fotografar, o certo é que as fotos que tirei durante a descida ficaram sem qualidade nenhuma.

No princípio era assim

Tendo a máquina já a postos, preparei-me para fazer a descida com o Carlos. Sendo ele já experiente nestas andanças e eu um principiante, fui à frente e ele atrás para guiar a canoa.

Isto até que é fácil, basta pegar na pagaia e zás, zás, zás, ir por ali fora, bem, enquanto os músculos aguentarem. Não há muito trânsito nem cruzamentos nem curvas apertadas. Outra coisa que aprendi é que é possível transportar o protector solar na canoa de forma a ir colocando durante o caminho, para não queimar as perninhas e os pezinhos.

A paragem intermédia seria na Penha da Águia, um local remoto perdido no meio de nada, onde haveria lugar a um abastecimento mais sólido do que as (muitas) cervejas transportadas pelos barcos de apoio. Aqui chegado, aprendi também por experiência própria que se sair da canoa com os chinelos calçados, depois tenho que os ir buscar com a mão, pois ficam enterrados em pelo menos um palmo de altura de lodo.

Penha da Águia

Por volta da uma da tarde, tendo chegado o pessoal todo, incluindo os mais atrasados, fizemo-nos de novo à estrada, ou melhor, ao rio, para a parte final da etapa. Não convinha atrasarmo-nos muito por causa da mudança da maré, mesmo assim e devido à extensão deste primeiro dia iríamos sempre apanhar um bocado de maré a subir.

O adeus à Penha da Águia

Ainda não fiz qualquer referência à paisagem durante a descida. É deslumbrante ver o rio a perder de vista e os montes em redor. Depois de uma curva, temos mais rio e mais montes em redor. Contam-se pelos dedos das mãos (e ainda sobram dedos) as casas que encontrámos pelo caminho. Durante grande parte do caminho as canoas vão a algumas centenas de metros umas das outras. Só se ouve o chapinhar das pagaias. De vez em quando lá se juntam uma meia dúzia de canoas em volta de algum barco de apoio, em busca de substrato líquido, para de seguida, se voltarem a afastar, em função dos diferentes ritmos de cada um. De novo só o azul do céu e da água, e o castanho pintalgado de verde dos montes.

A paisagem durante a descida

A parte final deste primeiro dia começou a tornar-se um bocado penosa. A última hora então foi terrível. Já não tinha forças para levantar os braços, a pagaia estava quase apoiada nos joelhos e só conseguia dar um impulsozinho pequeno na água.

Finalmente Pomarão à vista, mas até lá chegarmos são bem uns vinte minutos. Que bom é voltar a ter os pés bem assentes no chão.
Depois de voltarmos a ter o grupo reunido, fomos ao almoço, desta vez servido num dos cafés da terra. Deviam ser umas três ou quatro horas da tarde.

O almoço no Pomarão

O resto do dia seria passado no descanso, já a pensar na jornada do dia seguinte. Sombra é coisa que não abunda lá pelo Pomarão, por isso custou um bocado a passar o resto da tarde. Tirámos os sacos da camioneta e preparámos as camas para a noite. Havia tão poucos sítios bons (ou menos maus, depende da perspectiva) que tivemos que os ocupar logo estendendo o saco cama, pois à mais pequena distracção havia logo quem ocupasse o lugar.

Imagens do Pomarão

Ainda fiz uma sesta no passadiço que dá para o cais, mas aconselharam-me a não ficar ali durante a noite. Apesar de confortável(?) era estreito, e com a escuridão da noite corria o risco de ser espezinhado por algum transeunte mais alcoolizado.
O Carlos estava a pensar ir dormir para um barco, tal como fizera o ano passado e eu resolvi fazer o mesmo.

Saramugo, o verdadeiro soalho flutuante

No resto da tarde ainda assistimos a dois jogos de futebol do campo lá da terra, feito de gravilha com um tamanho maior que berlindes. É incrível como alguém joga ali.

Com o Sol já a por-se, e portanto com a temperatura já mais suportável, eu o Jorge e o Carlos partimos à conquista de Espanha montados nos nossos corcéis, isto é, nos nossos chinelos de plástico. Ninguém mais nos quis acompanhar temendo a caminhada, mas a distância era de apenas umas poucas centenas de metros, até à nova ponte que liga as duas margens da ribeira da Chança, a qual serve de fronteira entre os dois países. Com a vantagem de que no regresso seria a descer.




A Ribeira da Chança e a ponte que liga Portugal e Espanha

A obra é recente, segundo disseram a ponte não existia o ano passado, e é comovente ver o empenho que o estado aplicou nesta construção. Do lado espanhol o acesso à ponte é feito por uma simples estrada nova, larga, com as marcações a branco bem visíveis. Do lado português, e para fazer inveja aos espanhóis há uma magnífica SCUT. Sem qualquer custo para o utilizador mesmo, e por enquanto. Se o governo tivesse noção da quantidade de espanhóis que atravessam a fronteira no Dia Nacional do Pomaráo (que por acaso é hoje, dia 31 de Agosto) para assistir ao concerto da Tânia Cristina, já teria instalado ali uma portagem, com ou sem chips de matrícula.

Uma simples estrada e uma magnífica SCUT

Uma nota digna de registo é que os participantes foram seguidos durante a descida por repórteres da National Geographic

Os repórteres da National Geographic em acção

O jantar foi servido no cais, constituído por uma larga plataforma de cimento, onde cabíamos todos, mais a camioneta, as geleiras a fazerem as vezes de mesa e o grelhador. O aquecimento para a rave party que, tal como na véspera, se seguiria ao jantar, começou logo, com a música a sair bem alto das colunas. Havia uma certa escuridão no ar, pelo que os menos entendidos em culinária como é o meu caso nem sabiam (nem viam) bem o que estavam a comer, era qualquer coisa grelhada, e saiba bem. Com cerveja gelada sabia ainda melhor.

À noite tinhamos para assistir o concerto da Tânia Cristina, que seria no exterior do café onde foi servido o almoço. Basicamente consistia na Tânia Cristina cantando, acompanhada do seu orgão electrónico, daqueles em que se carrega num botão e quase tocam sozinhos, parecem uma orquestra inteira. Certo é que o espaço estava cheio, e ninguém arredou pé ate ao final. Excepto os intrépidos marinheiros, que no dia seguinte tinham que se levantar cedo pois tinham mais umas quantas milhas para marinhar.

Junto ao cais, o ambiente não era o mais propício para dormir. As colunas ainda não se tinham calado, e a julgar pelos anos anteriores, havia a temer que só se calassem no dia seguinte de manhã quando a camioneta arrancasse.
Felizmente lá pelas três ou quatro da madrugada, alguém mais exaltado, morador ou excursionista, não sei bem, conseguiu que se fizesse silêncio.

Com os locais de dormida quase todos já previamente escolhidos, faltava eu e o Carlos encontrarmos o “nosso” barco. Já estava referenciado, apenas não o ocupámos durante o dia para não levantar suspeitas. Tratava-se do “Saramugo”, e constituiu para nós um autêntico quarto de hotel com o verdadeiro “soalho flutuante”, bem melhor do que o cimento do cais.

(Mais fotos da viagem podem ser vistas em http://picasaweb.google.com/paulo.e.c.rodrigues )

Sem comentários:

Enviar um comentário