Descrição
quarta-feira, 28 de julho de 2010
Mapa de Tarouca
Aumentando a resolução conseguem-se ver as diversas localidades por onde passei:
- Tarouca cidade
- Ucanha
- Salzedas
- Vila Pouca de Salzedas
- Mondim da Beira
- S. João de Tarouca
Quando souber como se faz hei-de colocar uns pinos a marcar os diversos locais, para já fica apenas o mapa.
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segunda-feira, 26 de julho de 2010
Singularidades da ponte de Ucanha
Por coincidência surgiu uma conversa sobre isso a propósito do programa Recantos da RTP 2 que passou no dia 24-07-2010, onde se referia que era “uma das mais bem conservadas” pontes fortificadas. Tive portanto que ir à procura do resto da história.
A ponte fortificada de Ucanha não é única, o que é único é o facto de tanto a ponte como a torre ainda estarem de pé. Efectivamente encontrei mais duas, a ponte de Sequeiros e a ponde da Ajuda, mas nenhuma delas se encontra inteira já. A ponte de Ajuda está semi destruída e a ponte de Sequeiros está de pé mas a torre já não existe.
A ponte da Ajuda situa-se no rio Guadiana e ligava Elvas a Olivença. Tinha uma torre a meio do tabuleiro da ponte. Foi mandada construir em 1510 por D. Manuel I. Foi destruída e reconstruída várias vezes. Após a última destruição em 1709, foi abandonada.
Por sorte em Setembro próximo vou estar em Elvas para o Encontro anual de coleccionadores de pacotes de açúcar do Clupac, o Portsugar 2010, e vou tentar arranjar mais um dia para visitar esta ponte e arredores.
A ponte de Sequeiros encontra-se no concelho de Sabugal, sobre o rio Côa. É uma ponte de estilo românico, possivelmente construída no século XIII. Embora a ponte ainda se encontre de pé, a torre está em ruínas. Mais uma para visitar, não sei bem quando.
sexta-feira, 23 de julho de 2010
A Ilha Verde
A Ilha Verde
O progresso que a vista não alcança
Está p'ra lá destes montes em redor
Aqui não há sinais de abastança
Aqui só o sossego é maior.
Este verde em que a vista descansa
Reflecte nesta água o seu esplendor
Ao som desta música que não cansa:
Sinfonia da Água em Sol Maior.
O relógio de Sol e o seu ponteiro
Indica que é hora do regresso,
De deixar esta luz, os sons, o cheiro
Por isso na hora em que me despeço
Olho mais uma vez este ribeiro
E parto desta terra com apreço.
Desta ilha verde não se vê nenhum Continente. Nem tão pouco Modelo, Jumbo ou Pingo Doce.
Não se ouvem vozes, telemóveis ou motores. Só o ruído da água a correr e a saltar sobre as pedras, e um ou outro pássaro ocasional que passa.
Até mesmo o vento, essa presença invisível quase sempre presente, estava reduzida a uma ínfima brisa quase sem força para agitar as folhas.
A presença humana estava reduzida a um único exemplar, o que nem sequer é suficiente para perpetuar a espécie.
A fauna, essa estava representada em quantidade e variedade. Começando pelos pássaros, invisíveis mas que faziam ouvir a sua presença. As pedras da ponte, quentes pelo Sol estival do meio da tarde, serviam de pouso a diversas lagartixas, que correram a esconder-se com a chegada do intruso. Como é normal junto a qualquer curso de água, nuvens de moscas, melgas e mosquitos enchiam o ar.
A flora estava presente por todo o lado, com inúmeros membros da família matos, sobretudo árvores e ervas. Desculpem eu não saber os nomes próprios, só lhes conheço os apelidos.
Se o progresso alguma vez chegar a esta terra, a vida nunca mais será a mesma, porém continuará tudo igual.
As pedras gastas dos caminhos deixarão de ver a luz do Sol, cobertas pelo tapete negro do alcatrão, porém os pés que o pisarem continuarão a inexorável marcha em busca da sobrevivência.
As árvores que ladeiam os caminhos darão lugar a casas com lojas que venderão produtos supérfluos, porém os poucos habitantes destas paragens não poderão nem comprar o que é essencial.
Anúncios, cartazes e neons anunciarão visitas, passeios e excursões, pagos obviamente, porém quem vier não verá aquilo que eu vi gratuitamente. Verão o rio, porém não lhe ouvirão o murmurar, abafado pelo ruído da multidão. Verão as árvores, porém não sentirão o sossego, desaparecido pela presença de quiosques, musica os berros e transito.
Quem é que vai a um concurso televisivo dizer ao apresentador que quer ganhar dinheiro para fazer uma viagem a Vila Pouca de Salzedas? Quem é que poderá impressionar os amigos e fazer inveja aos inimigos dizendo uma coisa dessas? Ninguém certamente. Ah, mas quando Vila Pouca de Salzedes estiver no mapa dos melhores destinos turísticos, quando deixar de estar ao alcance de pelintras, quando até as melhores agências de viagens, aquelas que enganam declaradamente os seus clientes organizarem viagens para lá, então muita gente fará a sua viagem de sonho ao concelho de Tarouca.
Tudo isto não passa de uma miragem, um pesadelo, e ainda bem. Por aqui não há nada de novo debaixo deste Sol.
Até quando?
De regresso ao século XXI, tive que subir algumas centenas de metros pelo íngreme caminho empedrado que separa a ponte da estrada de alcatrão onde ficou o carro. Ao chegar algo me fez recordar reminiscências do passado. O carro tinha ficado num local onde a berma um pouco mais larga permitia o seu estacionamento, junto a um campo de milho. O meu relacionamento com o milho resume-se à broa do dito. Há uns anos atrás, numa viagem também pelo Portugal profundo, e ao passar por um campo de milho, disse a alguém que tinha a fantasia de dar uma queca num campo de milho, “à sombra do milho verde”.
Obtive a seguinte resposta: “ah, isso é porque moras numa cidade, se morasses no campo querias dar uma num elevador!”.
Não percebi nada da resposta, aliás ainda hoje não a percebi, só sei que o campo de milho, lá ficou para trás, imaculado.
Este texto tem um pouco de batota, não foi escrito (nem mesmo pensado) junto à ponte de Vila Pouca. Tudo ocorreu em 21 de Julho, durante uma viagem de autocarro do Porto para Lisboa. Com a trepidação própria de um veículo em movimento, quer a letra quer mesmo as ideias, ficaram assim um pouco tremidas.
Também não sei porque tem o título de “A Ilha Verde”. Há umas semanas atrás, o meu psicanalista particular falou-me de “ilhas”. Pode se que tenha alguma coisa a ver. Ou talvez não.
domingo, 18 de julho de 2010
U quê? Ucanha!
Não, não são os motivos que me levaram a fazer esta viagem, mas sim os Cafés Motivos, dos quais arranjei alguns pacotes de açúcar algures em Britiande. Tinha apenas um na minha colecção, mas agora fico com alguns para troca.
Quanto à viagem, apesar do destino ter sido Tarouca, o que a motivou foi a ponte de Ucanha, da qual vi umas imagens na net e fiquei com vontade de a fotografar.
Eu gosto de águas porque separam, e gosto de pontes porque unem. Parece contradição, e se calhar até é. Ainda bem.
Após alguma pesquisa, encontrei várias outras coisas de interesse no concelho de Tarouca incluindo outras pontes, e resolvi preparar a viagem. Ucanha é uma freguesia pertencente ao concelho de Tarouca, que é cidade desde 2004. Inicialmente tinha pensado ficar em Tarouca uma noite, mas em apenas um dia visitei quase todos os locais que compunham a minha lista, e por outro lado a vontade de lá ficar não era muita, de modo que ao fim do dia arrumei as malas e iniciei a viagem de regresso.
O texto que vou apresentar vai seguir uma ordem temática e não cronológica, e o primeiro tema é:
Pontes
As pontes que visitei cruzam todas o rio Varosa.
Ucanha
O conjunto da ponte e da sua torre, em Ucanha, terá sido construído no séc. XII. A ponte servia de entrada ao couto cistercense do Mosteiro de Salzedas, e a torre servia para a cobrança de um tributo ou portagem.
Alguns autores sustentam que a construção não terá sido simultânea, sendo a ponte mais antiga do que a torre.
O espírito portageiro em Portugal parece ser genético e já vem de longe. Convém lembrar que o portageiro-mor dos tempos actuais nasceu no distrito contíguo de Vila Real (este em que estamos é Viseu). Uma questão hereditária, portanto.
Em 1315 um documento régio estipula a obrigatoriedade de passagem na ponte e o pagamento da respectiva portagem.
Em 1324 há uma tentativa de D. Dinis de isentar de portagem os moradores de Castro Rei, porém devido à oposição dos monges de Salzedas tal tentativa não teve sucesso.
Se substituirmos “monges de Salzedas” por “PSD” e “moradores de Castro Rei” por “moradores uma localidade qualquer situada nas imediações de uma qualquer SCUT”, poderíamos estar na presença de uma notícia actual e não de uma história do tempo do feudalismo.
Em 1465 D. Fernando Abade de Salzedas procede a obras na ponte e na torre, acrescentando dois pisos. A torre ficou assim com três pisos e com a sua altura actual.
Em 1504 D. Manuel I concede carta de foral ao Couto de Salzedas, eleva Ucanha a vila e extingue definitivamente as portagens na ponte.
Por sorte estava alguém no pequeno quiosque turístico em Ucanha e foi possível visitar a torre por dentro.
Vila Pouca de Salzedas
Vila Pouca, apesar do nome é apenas um lugar, quase desertificado, na freguesia de Salzedas, essa sim, elevada a vila. A ponte dizem ser de origem romana embora a arquitectura actual seja românica, e para lá chegar é preciso percorrer um caminho um bocado longo e bastante íngreme.
S. João de Tarouca
A ponte é românica.
Mondim da Beira (Mondim de Baixo)
Ponte também de origem românica. Das quatro que visitei, é a única que permite o atravessamento a automóveis. Junto à ponte existe uma praia fluvial.
Ponte e torre de Ucanha
Ponte de Mondim de Baixo
O rio Varosa nasce na serra da Nave, no concelho de Moimenta da Beira, tem cerca de 45km de comprimento, corre de sul para norte e desagua no Rio Douro, perto da Régua. A seguir a Lamego tem uma pequena barragem para aproveitamento hidroeléctrico.
O rio em Ucanha
O rio em Ucanha
O rio em Ucanha / O rio emVila Pouca
O rio em Vila Pouca
O rio em Vila Pouca / O rio em S. João de Tarouca
O rio em S. João de Tarouca
O rio em Mondim de Baixo
Encontrei os seguintes pelourinhos:
Ucanha
Salzedas
Mondim de Cima
Os roteiros referem um pelourinho em Mondim de Cima (*), mas eu encontrei dois, o segundo dos quais mesmo em frente à sede da Junta de Freguesia local. Ou aquilo apenas parece um pelourinho sem o ser, ou então eu fui o primeiro navegador a descobri-lo. E sem barco.
Arco de Paradela
Embora não seja um pelourinho, este monumento é um marco, e por isso resolvi incluí-lo nesta secção.
Trata-se de um arco memorial do séc. XII ou XIII, de granito, de volta inteira. Segundo fontes bibliográficas existiam inicialmente três arcos, desaparecendo dois com o passar dos anos.
Conta-se que quando o corpo de D. Pedro Conde de Barcelos estava a ser levado de Lalim para o Mosteiro de S. João de Tarouca onde iria ser sepultado, parou neste local, e em memória disso ali se ergueram estes arcos.
Há contudo autores para quem estes arcos são um marco monumental erguidos para demarcar o limite do couto do Mosteiro de S. João de Tarouca e outros que referem tratar-se de um monumento funerário construído para túmulo de Diogo Anes, que em 1175 era o proprietário do terreno.
O topónimo paradela tem um sentido topográfico, uma subida difícil no cimo da qual se pode parar para descansar.
Pelourinho de Ucanha
Mosteiro de Salzedas
As ruínas do que resta do Mosteiro de Salzedas encontram-se pegadas à actual Igreja. Estas duas construções devem-se a D. Teresa Afonso, segunda mulher de Egas Moniz.
(Olha, afinal nestes tempos remotos já se casavam mais do que uma vez, e seguramente pela igreja, visto que não havia ainda certamente o registo civil).
Embora se diga que o mosteiro foi fundado em 1167, a verdade é que há uma carta de D. Afonso Henrique datada de 1163 pela qual doa o couto de Algeriz a Teresa Afonso, para que esta por sua vez o ofereça ao mosteiro de Salzedas (o mosteiro foi construído no local denominado Abadia Velha) pelo que já haveria um mosteiro anteriormente.
D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques viveu algum tempo em Salzedas, tendo como aia de seu filho ainda infante, Teresa Afonso.
(Interessante. Por isto se vê que o compadrio é também hereditário).
O que resta do mosteiro e a actual igreja devem ser obra dos séculos XVI a XVIII, pois devido às reconstruções sofridas ao longos dos tempos, já nada resta das construções originais.
Mosteiro de S. João de Tarouca
Segundo reza a história D. Afonso Henrique lançou em 1152 a primeira pedra deste mosteiro no regresso da batalha de Trancoso. Foi construído no local de um antigo eremitério e tornou-se no primeiro mosteiro cistercense em Portugal.
Foi vitima das invasões francesas e do liberalismo (e também do facto de se encontrar em Portugal), e está em avançado estado de degradação.
Mosteiro e igreja de S. João de Tarouca
Para terminar, e aproveitando o facto de a lua brilhar sobre a minha cabeça, aqui fica uma pequena lembrança desta bela música dos Supertramp, pertencente ao álbum Crisis? What crisis?
Pelourinho de Ucanha / Igreja de Salzedas
Fontes
http://pt.wikipedia.org/wiki/Tarouca
http://www.cm-tarouca.pt/
http://tarouca.com.sapo.pt/index.htm
http://salzedas.no.sapo.pt/abve.htm